O que passa despercebido e a cuca de pêssego
As coisas pequenas que deixamos de ver valor esperando algo maior ou esperando que passe
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As coisas que nos mudam pra sempre
Tem coisas que acontecem na nossa vida que mudam a gente, ou a forma como vemos as coisas, para sempre. Pode ser uma frase dita por alguém que nos dá um click, ou uma viagem, um relacionamento, uma perda, um nascimento…
Para mim, a primeira e maior delas foi o adoecimento e morte do meu pai. Eu tinha 12 anos quando ele descobriu um tumor no intestino e 15 quando ele faleceu.
Se, infelizmente, você também já conviveu com o câncer de perto, sabe que é uma doença bem sofrida. Não só para o doente, mas também para os que o amam.
Perder meu pai tão cedo com certeza me fez ter uma visão da finitude da vida bem mais cedo do que normalmente temos.
Pode parecer macabro pensar na morte, mas para mim, sempre foi algo que me fez querer viver mais. Assim, volta e meia eu digo a mim mesma que devo aproveitar e curtir meus dias, as pessoas que amo e a situação que me encontro (seja ela qual for), porque não faço ideia quando tudo vai mudar ou quando alguém pode não estar mais por aqui.
Quando lembramos constantemente que vamos morrer a gente acaba vivendo melhor.
Saudosismo no presente que já já é passado
Aqui estou eu, 31 dias após o nascimento da minha filha, Nina, e pensando como o tempo passa rápido. Posso ser uma exceção (ou quem sabe apenas alguém que decidiu falar abertamente sobre?), mas o meu puerpério não está triste e sofrido. Eu diria que ele está mais para cansado e saudoso.
Pois é, saudosismo no puerpério.. quem diria!
A verdade é que as madrugadas no silêncio, eu e minha neném, numa conexão e paz tranquilas, vai durar pouco.
O corpinho pequeno dela (já não mais tão pequeno, ela está crescendo e engordando super!), já já vai estar maior que meu colo.
O cheirinho de recém nascido já quase foi embora.
Até o meu corpo da gravidez já mudou muito.. e foram só 31 dias.
Nina com 1 semana de vida
Quando me dou conta disso, imediatamente eu me sinto grata por estar vivendo tudo isso e mais grata ainda por lembrar com frequência que vai passar, mais rápido do que eu imagino, e assim consigo mandar embora os pensamentos cansados e de desespero que vez ou outra surgem (você não achou que eu estivesse imune a eles, né?!) e aproveitar para saborear esses momentos únicos e especiais.
Abro um parênteses aqui para deixar claro que sei que muitas mulheres não sentem o que sinto nessa fase, e entendo completamente quem tenha mais sentimentos ruins e negativos do que positivos ou neutros. Se esse foi ou é o seu caso, sinta-se abraçada. Com toda certeza você tem todos os motivos e direito para se sentir exatamente como está… e se tem uma coisa que temos em comum é: vai passar! Rápido ou devagar, não será pra sempre. Respira fundo, mamãe!
Preste atenção e aproveite as pequenas coisas, porque um dia você vai perceber que elas eram as grandes coisas.
Essa frase ressoa demais com como penso. A alegria e sabor da vida está no pequeno, no detalhe.
Nas refeições do dia-dia compartilhadas com quem amamos. No abraço de boa noite que podemos dar em nossos pais, irmãos, filhos e companheiro. Aquelas horas de calma fazendo o que gostamos. A risada de doer a barriga.
As pequenas riquezas
Essas pequenas riquezas que são abundantes na nossa vida cotidiana, mas que perdemos o olhar atento a elas. Ficamos esperando pelo final de semana, a viagem de férias, a festa de arromba, o verão agitado, e deixamos de perceber que boa parte da nossa vida está sendo comandada pelo piloto automático - esse sujeito que só faz, pouco sente.
Mas e aí, o que a gente faz? Como podemos lembrar ou até cultivar esse olhar mais delicado para o comum?
Uma boa forma de começar é pela cozinha! Preparar algo gostoso e apreciar com boa companhia + calma são belos antídotos para o modo piloto automático.
A minha sugestão é essa cuca de pêssego! Uma massa de bolo super fofinha, com cobertura de pêssegos frescos e uma farofinha crocante por cima.
Perfeito para uma tarde com café, chá, risadas, lembranças, carinho e porque não, se for o que precisa, um chorinho ou desabafo?
A cuca de pêssego
Cuca é uma receita que instantaneamente me lembra minha avó materna, Elvira. Uma senhora carinhosa e muito prendada, que está quase com 90 anos e que já me ensinou tanto.
Minha avó Elvira, eu e meu pai - na época dos pêssegos em saquinhos e chamego no sofá
A receita original dela é sempre com banana.. mas, quando era pequena ela morava em uma casa com jardim enorme. E tinha pés de pêssego! Pés que, quando em época, ficavam cheios de saquinhos de papelão cobrindo cada pêssego para que eles tivessem tempo suficiente de amadurecer antes dos passarinhos devorarem todos.
E esse cuidado primoroso dela com seu jardim, garantia que tivéssemos geléia de pêssego caseira durante o ano. A melhor geléia de pêssego da história, diga-se de passagem.
Hoje em dia ela ainda faz essa geléia, uma vez ao ano, mas com pêssegos comprados. De qualquer forma, eu continuo amando, e tenho um pote que guardo como se fosse jóia de família (como aos poucos, sempre que quero sentir carinho).
Bom, mas voltando à cuca. Entendeu porque escolhi o pêssego né?
Aqui no hemisfério norte, o verão está quase acabando, e por isso os pêssegos estão em promoção no mercado. Comprei uma cesta deles e só pensava na cuca.
Ficou maravilhosa!!! Foi meu bolinho de pós-parto e comi ele com muito prazer - e fome (amamentar dá uma fome tremenda, menina!!!).
Vamos lá?